quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Agricultor de Rio Preto completa 108 anos


Aos 108 anos de idade, completados neste 20 de setembro, o agricultor Manoel Francisco Ramos, o Manoel de Mano de Rio Preto, vive feliz com a família e aos cuidados com três cães que protegem seu sítio. Diferente de muitas famílias rurais, a maior parte de seus 96 descendentes está fixada no campo. Ele nasceu e viveu toda a vida em Campos dos Goytacazes, sempre na mesma região da microbacia do Rio Preto, casou-se, teve oito filhos e hoje abre um sorriso largo ao constatar que possui tantos descendentes, entre filhos, netos, bisnetos e tataranetos. Ele pode ser considerado um exemplo para a comunidade onde vive, por seu amor à terra e à família, que vive quase toda a sua volta.

“Que beleza! Lutei muito, mas criei todo mundo com o meu trabalho e agora vou vivendo, até o dia que Deus quiser”, diz, sentado na soleira da porta da cozinha, em busca do calor dos raios de sol, onde passa os fins de tarde esperando as visitas de todos, que vão terminando a lida na roça e passando, para ver o patriarca.

O homem que durante mais de 40 anos foi campeiro em terras de grandes fazendeiros, com muita dificuldade conquistou seu pedaço de terra e conseguiu passar aos sucessores o amor pela terra. “Nós sempre vivemos da roça e para a roça. A nossa vida sempre foi pensar em plantar e colher. Nunca nem pensei em deixar minha terra. Só uma irmã minha foi morar na cidade e, mesmo assim, porque se casou com um rapaz que era da cidade. Os outros ficaram todos por aqui mesmo”, disse o primogênito de Manoel de Mano, o também agricultor Adalto Ramos, 75 anos, que teve 10 filhos, a maioria agricultores, alguns beneficiados pela reforma agrária na própria microbacia do Rio Preto.

O amor à terra que Adalto aprendeu com o pai, transmitiu aos filhos e aos netos, pois a maioria ainda está no campo. “Quase todos estão aqui na barra da minha calça”, diz o agricultor. Nos últimos anos ele começou a enfrentar problemas em alguns trechos de suas terras, como a erosão dos morros, e planeja a adoção de novas formas de cultivo, com práticas agrícolas sustentáveis. “Sempre plantamos cana-de-açúcar, mas a atividade está a cada dia mais decadente. Agora o que meus filhos resolverem fazer, eu vou apoiar. Estamos planejando investir em vacas de leite e eles conhecem umas técnicas que estamos pensando em adotar para poder deixar essa terra descansar”, revela.

“Só de um fazendeiro, meu pai foi campeiro por 40 anos. Quando ele resolveu vender as fazendas e nós saímos, sem nenhum direito trabalhista, nos ofereceu comprar a parte que quiséssemos. Nós trabalhamos como meeiros até que conseguimos pagar os 11 alqueires, que agora serão divididos para os oito filhos, pela vontade do meu pai. Ele quer deixar tudo certo antes de ir embora. Fez questão de inventariar as terras em vida e nós concordamos, porque achamos que tudo tem que ser como ele quer a essa altura da vida”, explica o filho.
"Meu avô é um grande exemplo, ele sempre trabalhou muito e sempre teve muito amor à terra. Um dia vou querer que meus netos tenham de mim  a imagem que tenho do meu avô", diz o agricultor assentado Nilton do Espírito Santo Ramos, 47 anos, neto de Manoel de Mano.

Texto da jornalista Flávia Ribeiro publicado no portal do Rio Rural.

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